segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O lenço dela - Manuel Antônio Álvares de Azevedo



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Quando, a primeira vez, da minha terra

Deixei as noites de amoroso encanto,

A minha doce amante suspirando

Volveu-me os olhos úmidos de pranto.
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Um romance cantou de despedida,

Mas a saudade amortecia o canto!
Lágrimas enxugou nos olhos belos...
E deu-me o lenço que molhava o pranto.
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Quantos anos, contudo, já passaram!
Não olvido porém amor tão santo!

Guardo ainda num cofre perfumado
O lenço dela que molhava o pranto...
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Nunca mais a encontrei na minha vida,
Eu contudo, meu Deus, amava-a tanto!
Oh! quando eu morra estendam no meu rosto
O lenço que eu banhei também de pranto.
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Amor de ostra - Affonso Romano de Sant'Anna



Nunca soube como as ostras amam.
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Sei que elas tem um jeito suave de estremecer
diante da vida e da morte.
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Tens um jeito de acomodar teu corpo ao meu
como na concha.
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Eu não sabia como as ostras amam
até que duas pérolas brotaram de teus olhos
no mar de cama.
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Amor de fixação - Manuel Alegre



"A experiência é madre das coisas e por ela soubemos radicalmente
a verdade". (Duarte Pacheco Pereira, "Esmeraldo")


Há um caminho marítimo no meu gostar de ti.

Há um porto por achar no verbo amar

há um demandar um longe que é aqui.

E o meu gostar de ti é este mar.
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Há um Duarte Pacheco em eu gostar

de ti. Há um saber pela experiência

o que em muitos é só um efabular.
Que de naugrágios é feita esta ciência
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que é eu gostar de ti como um buscar
as índias que afinal eram aqui.
Ai terras de Aquém-Mar (a-quem-amar)
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naus a voltar no meu gostar de ti:
levai-me ao velho pinho do meu lar
eu o vi longe e nele me perdi.
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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Poema quase persa - Marina Colasanti



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Vem, amado,
segura minhas ancas nas tuas mãos
enquanto as minhas
domam teus joelhos.
Vem,
abre na minha testa
uma estrada de estrelas
e como um sol nascente de verão
aquece
folha a folha
os meus rosais.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Arrependimento - Olegário Mariano



Deste amor torturado e sem ventura
Resta-me o alívio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
Não vale o que te dei de encantamento.
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Abri para o teu sonho o firmamento,
Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.
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Hoje, ambos à mercê de sorte avessa,
Se para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que não te esqueça.
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Padecemos idêntico suplício:
Tu - corroída de pena e de remorso,
Eu - com vergonha do meu sacrifício.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Fanatismo- Florbela Espanca



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Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
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Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
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“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
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E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Pedido - Roseana Murray


me deixa escrever paixão
ao teu redor
tecer a palavra como quem
enchesse o oco de uma fruta
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tudo será feito em silêncio
um vento quase de nada trocará nossos olhos
uma água macia forrará nossos gestos
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me deixa escrever teu nome
me deixa te escrever
só doerá um pouco
quando encostar minha alma na tua
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O nosso amor - Vinícus de Moraes



O nosso amor
Vai ser assim
Eu pra você
Você pra mim
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Tristeza
Eu não quero nunca mais
Vou fazer você feliz
Vou querer viver em paz
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O nosso amor
Vai ser assim
Eu pra você
Você pra mim
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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Alvarenga Peixoto


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Eu vi a linda Jônia e, namorado,
fiz logo voto eterno de querê-la;
mas vi depois a Nise, e é tão bela,
que merece igualmente o meu cuidado.
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A qual escolherei, se, neste estado,
eu não sei distinguir esta daquela?
Se Nise agora vir, morro por ela,
se Jônia vir aqui, vivo abrasado.
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Mas ah! que esta me despreza, amante,
pois sabe que estou preso em outros braços,
e aquela me não quer, por inconstante.
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Vem, Cupido, soltar-me destes laços:
ou faze destes dois um só semblante,
ou divide o meu peito em dois pedaços!
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(Alvarenga Peixoto)
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Soneto XXV - Guilherme de Almeida


O nosso ninho, a nossa casa, aquela
nossa despretensiosa água-furtada,
tinha sempre gerânios na sacada
e cortinas de tule na janela.
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Dentro, rendas, cristais, flores... Em cada
canto, a mão da mulher amada e bela
punha um riso de graça. Tagarela,
teu cenário cantava à minha entrada.
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Cantava... E eu te entrevia, à luz incerta,
braços cruzados, muito branca, ao fundo,
no quadro claro da janela aberta.
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Vias-me. E então, num súbito tremor,
fechavas a janela para o mundo
e me abrias os braços para o amor!
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Soneto XXXVI - Cláudio Manuel da Costa


XXXVI
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Estes braços, Amor, com quanta glória
Foram trono feliz na formosura!
Mas este coração com que ternura
Hoje chora infeliz esta memória!
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Quanto vês, é troféu de uma vitória,
Que o destino em seu templo dependura:
De uma dor esta estampa é só figura,
Na fé oculta, no pesar notória.
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Saiba o mundo de teu funesto enredo;
Por que desde hoje um coração amante
De adorar teus altares tenha medo:
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Mas que empreendo, se ao passo, que constante
Vou a romper a fé do meu segredo,
Não há, quem acredite um delirante!
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Amor e vida - Raimundo Correia



Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida,
Este amor infeliz, como se fora
Um crime aos olhos dessa, que ela adora,
Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida.
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A crua e rija lâmina homicida
Do seu desdém vara-me o peito; embora,
Que o amor que cresce nele, e nele mora,
Só findará quando findar-me a vida!
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Ó meu amor! como num mar profundo,
Achaste em mim teu álgido, teu fundo,
Teu derradeiro, teu feral abrigo!
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E qual do rei de Tule a taça de ouro,
Ó meu sacro, ó meu único tesouro!
Ó meu amor! tu morrerás comigo!
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Amor - Roseana Murray


Amor é "abra-te, sésamo",
palavra mais que magia,
mais que montanhas,
oceanos.
Amor é o céu inteiro,
são constelações se formando,
universos em expansão.
Amor é fogo sagrado,
é galáxia.
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Por Manuel Antônio Álvares de Azevedo ...

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Perdoa-me visão dos meus amores,
Se a ti ergui meus olhos suspirando!...
Se eu pensava num beijo desmaiando
Gozar contigo a estação das flores!
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De minhas faces os mortais palores,
Minha febre noturna delirando,
Meus ais, meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores...
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Morro, morro por ti! na minha aurora
A dor do coração, a dor mais forte,
A dor de um desengano me devora...
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Sem que última esperança me conforte,
Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora
Morte no coração, nos olhos morte!
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(Álvares de Azevedo)
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Verbo Amar - J. G. de Araújo Jorge

Te amei: era de longe que te olhava
e de longe me olhavas vagamente...
Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,
que a alma da gente faz escrava.

Te amava: como inquieto adolescente,
tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava
adivinhando esse mistério ardente
do mundo, em cada beijo que te dava.

Te amo: e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor, enquanto
segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando...

Te amar: é mais que em verbo é a minha lei,
e é por ti que o repito no meu canto:
te amei, te amava, te amo e te amarei!
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(Poema de JG de Araujo Jorge
do livro -Bazar de Ritmos- 1935)
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O mais-que-perfeito - Vinícus de Moraes

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Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)
Ah, quem me dera ir-me!
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Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...
Ah, quem me dera amar-te!
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Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais: cuidado...
Ah, quem me dera ver-te!
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Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Súplica - Miguel Torga



Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
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Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Por Fagundes Varela ...

"Oh! diz-me que ainda posso

um dia de teus lábios beber o mel dos céus

que eu te direi, mulher dos meus amores

amar-te é ainda melhor do que ser Deus".

(Fagundes Varela)

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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pelo telefone - Gilka Machado


Ignoro quem tu és,
de onde vens,
aonde irás;
amo-te pelo enigma pertinaz
que em ti me atrai e me intimida,
por essa música mendaz
de tua voz
que alvoroçou minha audição
e me vem desviando a vida
de seu destino de solidão.
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Ignoro quem tu és,
de onde vens,
aonde irás...
Fala-me sempre,
mente mais;
não te posso exprimir o pavor que me invade,
as aflições que me consomem,
ao meditar na triste realidade
de que deve ser feita
essa tua alma de homem.
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Ignoro quem tu és,
de onde vens,
aonde irás,
audaz
desconhecido;
tua palavra mente ao meu ouvido,
mas não mente essa voz que me treslouca!
— Ela é o amor que me chama por tua boca,
num apelo tristonho,
de saudade;
é a exortação do sonho
à minha rara sensibilidade.
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Ignoro quem tu és,
de onde vens,
aonde irás:
amo a ilusão que tua voz me traz
a falsidade em que procuro crer.
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Fala-me sempre, mente mais,
que de mim só mereces tanto apreço,
ó nebuloso, porque desconheço
as humanas misérias de teu ser!
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Mas nesta solidão a que me imponho,
quando quedo em silêncio
a te aguardar a voz,
como se torna teu enigma atroz,
que ânsia de estrangular este formoso sonho,
de transpor os espaços,
de bem te conhecer,
de me atirar depressa,
inteira,
nos teus braços,
de te possuir só para te esquecer!...
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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amor Idealizado - Fernando Pessoa

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Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
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A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
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Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ame e dê vexame - Roberto Freire


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Você ama aquela petulante! Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu. Você deu flores que ela deixou a seco. Você levou para conhecer a sua mãe e ela foi de blusa transparente. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam.
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Então? Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
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Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário, ele escuta Egberto Gismonti e Sivuca. Ele não emplaca uma semana nos empregos, esta sempre duro, e é meio galinha.
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Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
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Não pergunte pra mim. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes de Woody Allen, dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettuccine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem um amor?
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Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação de matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
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Não funciona assim. Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem. Caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão.
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O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido que por uma ficha limpa.
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Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá , ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC.
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Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem as pencas, bons motoristas e bons pais de família, mas mesmo assim, ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é.
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terça-feira, 28 de julho de 2009

Fumo - Florbela Espanca



Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
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Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
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Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
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Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...
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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nebulosas - Roseana Murray

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Tem pessoas que amamos
de amor tão intenso
que com seus gestos-palavras
vão fabricando nebulosas
dentro do corpo da gente
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quinta-feira, 18 de junho de 2009

O teu mistério - David Mourão-Ferreira



O teu mistério
decifrei-o
numa pupila cega:
fechado e aberto
como um seio
que pela noite
se me entrega.
A luz, se vinha,
não descia
do coração
nem dos sentidos:
mas concentrava
a extática alegria
de nos sentirmos
confundidos.
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terça-feira, 2 de junho de 2009

Súplica - Florbela Espanca

Olha pra mim, amor, olha pra mim;

Meus olhos andam doidos por te olhar!

Cega-me com o brilho de teus olhos

Que cega ando eu há muito por te amar.

O meu colo é arrninho imaculado

Duma brancura casta que entontece;

Tua linda cabeça loira e bela

Deita em meu colo, deita e adormece!

Tenho um manto real de negras trevas

Feito de fios brilhantes d`astros belos

Pisa o manto real de negras trevas

Faz alcatifa, oh faz, de meus cabelos!

Os meus braços são brancos como o linho

Quando os cerro de leve, docemente...

Oh! Deixa-me prender-te e enlear-te

Nessa cadeia assim etemamente! ...

Vem para mim,amor...Ai não desprezes

A minha adoração de escrava louca!

Só te peço que deixes exalar

Meu último suspiro na tua boca!...

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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Amor nos três pavimentos - Vinícius de Moraes


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Eu não sei tocar, mas se você pedir
Eu toco violino fagote trombone saxofone.
Eu não sei cantar, mas se você pedir
Dou um beijo na lua, bebo mel himeto
Pra cantar melhor.
Se você pedir eu mato o papa, eu tomo cicuta
Eu faço tudo que você quiser.
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Você querendo, você me pede, um brinco, um namorado
Que eu te arranjo logo.
Você quer fazer verso? É tão simples!... você assina
Ninguém vai saber.
Se você me pedir, eu trabalho dobrado
Só pra te agradar.
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Se você quisesse!... até na morte eu ia
Descobrir poesia.Te recitava as Pombas, tirava modinhas
Pra te adormecer.
Até um gurizinho, se você deixar
Eu dou pra você...
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sexta-feira, 8 de maio de 2009

Casamento - Adélia Prado


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Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinho na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Participo do Prêmio Top Blog

Vitória do amor - Rosângela do Valle Dias



Que estranho sentimento é esse que me cala
no momento de mais palavras?
Que brilho intenso é esse que transforma
minhas lágrimas em raios de sol?
Ah, poeta do amor!
As flores colorem a paisagem por onde tu passas.
A brisa mansa beija o teu rosto, no meu lugar.
A fada da esperança silencia e cede seu lugar ao sabiá,
desejoso de cantar contigo, em dueto, para me chamar.
Espera com isso ver nascerem versos...
Versos calados no sentimento,
rimas propícias ao iluminado pranto.
Que estranho sentimento é esse que me afasta
quando de ti quero me aproximar?
Que canto sofrido é esse que o sabiá entoa
contigo e não consegue me alcançar?
Lados opostos e a
certeza do bem-querer.
Distância a ser vencida
para o encontro de almas acontecer.
Flores, paisagens, raios , brisa, fada...
Palavras, lágrimas, cantos, versos,
rimas, certeza e esperança...
Todos juntos nesta poesia,
para celebrar a vitória do nosso amor.
Se tu me amas,
transcenda a poesia
e vem me encontrar.
Eu também te amo!
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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Essa que eu hei de amar… - Guilherme de Almeida

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Essa que eu hei de amar perdidamente um dia
será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.
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E quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,
.
quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…
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E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado,
mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!"
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sexta-feira, 6 de março de 2009

Ausente !!!


Caros amigos e leitores, comunico que por motivos de força maior, estarei impossibilitada de atualizar esse blog com a frequência que gostaria.
Agradeço pela atenção e comentários deixados.
Abraços, Renata.

terça-feira, 3 de março de 2009

Primavera - J. G. de Araújo Jorge

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O teu amor, querida,
fez um dia de primavera
neste começo de outono
que é a minha vida.
E do ramo, de onde as primeiras folhas
se soltavam pálidas, sem cor,
surgiu uma flor imprevista:
o teu amor...
.
Teu amor chegou assim
como uma coisa que no fundo se deseja
mas não se espera,
emocionando o coração, neste começo de outono
como um dia de primavera!
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Lua Branca - Chiquinha Gonzaga



"Ó, lua branca de fulgores e de encanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda comigo
Ai, por quem és, desce do céu, ó, lua branca
Essa amargura do meu peito, ó, vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Ó, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada
E em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo
Ela partiu, me abandonou assim
Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim"

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Celeste - Adelino Fontoura


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É tão divina a angélica aparência e a graça
que ilumina o rosto dela,
que eu concebera o tipo de inocência nessa criança
imaculada e bela.
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Peregrina do céu, pálida estrela,
exilada na etérea transparência,
sua origem não pode ser aquela
da nossa triste e mísera existência.
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Tem a celeste e ingênua formosura
e a luminosa auréola sacrossanta
de uma visão do céu, cândida e pura.
.
E quando os olhos para o céu levanta,
inundados de mística doçura,
nem parece mulher - parece santa.
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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Por Miro Julião ...



Vc é raio de sol
amor sem fingimento
orvalho do tempo
que nas asas do vento
me completa em silêncio!
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Valsinha - Vinícius de Moraes



Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
.
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
.
E ali dançaram tanta dança que a vízinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz
.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Como uma flor vermelha, a abrir - Maria Teresa M. Carrilho




Na noite pálida
e na madrugada
anunciada
sobressais tu,
meu amor
.
O riso e as lágrimas
envolventes
misturam-se
em catadupas quentes
e no meio do riso cheioi
nsolente até,
sobressais tu,
meu amor
.
Apologia, para quê?
tudo está concentrado
vivido
consumado
por causa de ti
e em ti,
meu amor
.
Contigo
o leito do rio distancia-se
e no meio
sobressais tu
no teu esplendor
como uma flor
plena e vermelha
a abrir...
.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Desperta-me de noite - Maria Teresa Horta


Desperta-me de noite
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito
.
É rede a tua lingua
Em sua teia
É vicio as palavras
Com que falas
.
A trégua
A entrega
O disfarce
.
E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes
.
Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo
.
E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vais descobrindo vales.
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Por Alice Ruiz...


meus pensamentos
cruzam os teus
como aviões no ar
.
da janela
os corações acenam
sem saber se vão voltar
.