quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FELIZ 2009 !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



Beijo - Virgínia Schall
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sua boca
uva rubra
roça meus lábios
e por segundos
somos murmúrios úmidos
seiva cósmica
de línguas
púrpuras
..
A todos que me acompanharam em 2008 agradeço de coração e desejo um Novo Ano repleto de alegrias, prosperidade, realizações, amor, paz e saúde!
Que a esperança e o amor permeiem sempre nossos corações!!!
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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A uma passante pós-baudelairiana - Carlito Azevedo



Sobre esta pele branca
um calígrafo oriental
teria gravado
sua escrita luminosa
– sem esquecer entanto
a boca: um ícone em rubro
tornando mais fogo
o céu de outubro
.
tornando mais água
a minha sede
sede de dilúvio –
.
Talvez este poeta afogado
nas ondas de algum danúbio imaginário
dissesse que seus olhos são
duas machadinhas de jade
escavando o constelário noturno
(a partir do que comporiaduzentas odes cromáticas)
.
mas eu que venero mais que o ouro-verde raríssimo
o marfim em alta-alvura
de teu andar em desmesura sobre
uma passarela de relâmpagos súbitos
sei que tua pele pálida de papel
pede palavras de luz
.
Algum mozárabe ou andaluz decerto
te dedicaria um concerto
para guitarras mouriscas
e cimitarras suicidas
.
Mas eu te dedico quando passas
me fazendo fremir
.
(entre tantos circunstantes, raptores fugidios)
este tiroteio de silêncios
esta salva de arrepios.
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Soneto de véspera - Vinícius de Moraes

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Quando chegares e eu te vir chorando
De tanto te esperar, que te direi?
E da angústia de amar-te, te esperando
Reencontrada, como te amarei?
.
Que beijo teu de lágrimas terei
Para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei?
.
Como ocultar a sombra em mim suspensa
Pelo martírio da memória imensa
Que a distância criou - fria de vida
.
Imagem tua que eu compus serena
Atenta ao meu apelo e à minha pena
E que quisera nunca mais perdida...
.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Cismar - Manuel Antônio Álvares de Azevedo


Fala-me, anjo de luz! és glorioso
À minha vista na janela à noite,
Como divino alado mensageiro
Ao ebrioso olhar dos froixos olhos
Do homem que se ajoelha para vê-lo,
Quando resvala em preguiçosas nuvens
Ou navega no seio do ar da noite.
Romeu
.
Ai! Quando de noite, sozinha à janela,
Co'a face na mão te vejo ao luar,
Por que, suspirando, tu sonhas donzela?
A noite vai bela,
E a vista desmaia
Ao longe na praia
Do mar!
.
Por quem essa lágrima orvalha-te os dedos,
Como água da chuva cheiroso jasmim?
Na cisma que anjinho te conta segredos?
Que pálidos medos?
Suave morena,
Acaso tens pena
De mim?
.
Donzela sombria, na brisa não sentes
A dor que um suspiro em meus lábios tremeu?
E a noite, que inspira no seio dos entes
Os sonhos ardentes,
Não diz-te que a voz
Que fala-te a sós
Sou eu?
.
Acorda! Não durmas da cisma no véu!
Amemos, vivamos, que amor é sonhar!
Um beijo, donzela! Não ouves? No céu
A brisa gemeu...
As vagas murmuram...
As folhas sussurram:
Amar!
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal - Marly de Oliveira


Natal. Nesta província não neva,
mas a chuva anda constante,
e anda tão longe, perdido,
o que a alma busca na treva.
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Que me ficou do ano findo?
Que se pode aprender neste Natal?
A renascer, gritam os sinos,
embora todos saibam que é mortal
aprendizagem essa, sem sossego.
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Nasce um deus de palha que o cerca
e nos convida a reviver sua paixão,
já não a cada ano, a cada instante
renovada. E o sangue se rebela
e tem vontade de dizer-lhe não.
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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Assim - Mila Ramos


Eu te amo
de um amar antigo
- sabor de antigamente
no velho caderno das lembranças -.
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Eu te amo assim,
de um amar antigo,
intocado,
abstrato,
indizível,
atemporal.
.
Assim.
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Por Rubén Darío ...


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Amar, amar, amar siempre y con todo
El ser y con la tierra y con el cielo,
Con lo claro del sol y lo obscuro del todo.
Amar por toda ciencia y amar por todo anhelo.
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Y cuando la montaña de la vida
Nos sea dura y karga, y alta y llena de abismos,
Amar la immensida, que es de amor encendida,
Y arder en la fusión de nuestros pechos mismos...
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domingo, 21 de dezembro de 2008

Passeio ao campo - Florbela Espanca

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Meu amor! Meu amante! Meu amigo!
Colhe a hora que passa, hora divina,
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
Sinto-me alegre e forte! Sou menina!
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Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina…
Pele doirada de alabastro antigo…
Frágeis mãos de madona florentina…-
Vamos correr e rir por entre o trigo! -
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Há rendas de gramíneas pelos montes…
Papoilas rubras nos trigais maduros…
Água azulada a cintilar nas fontes…
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E à volta, Amor… tornemos, nas alfombras
Dos caminhos selvagens e escuros,
Num astro só as nossas duas sombras…
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sábado, 20 de dezembro de 2008

Por Machado de Assis ...

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"O amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser companheira na vida, não é afiançar a perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou corromper-se."
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Por Pablo Neruda ...


De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.
.
Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Minha lira a suspirar - Rita Barém de Melo

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Minha lira a suspirar,
Que dizes nesta canção?
São saudades são amores
Dessa flor - recordação!
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- Minha lira a suspirar,
Que cantas com tanto ardor?
- Mais prantos do que sorrisos,
Mais tristezas que amor!
.
- Minha lira a suspirar,
Que tanges nesse amargor?
Não tens nas cordas sensíveis
Nem uma singela flor?
.
Lira minha que suspiras,
Não tens na vida (que dor)
Uma voz que fale ardente,
Ardentes falas d'amor?!
.
Lira minha que suspiras,
Como tu meiga quem é?
Mas triste lira não podes
Na ventura teres fé!
.
Lira minha que suspiras,
Na ventura tu não crês?
Mau condão fadou-te, lira,
Tão jovem, por que descrês?...
.
Minha lira a suspirar
Continua já não tens crença,
Na dita quem infiltrou-te
Essa profunda descrença?
.
Minha lira a suspirar
Só tens hinos d'amargor,S
ó cantos de sofrimento,
Endeixas de muita dor!
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(Março de 1856)
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Cerejas, meu amor - Renata Pallottini


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Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.
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E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba
.
e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...
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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pranto para comover Jonathan - Adélia Prado


.
Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Morrer de Amor - Maria Teresa Horta


.
Morrer de amor
ao pé da tua boca
.
Desfalecer
à pele
do sorriso
.
Sufocar de prazer
com o teu corpo
.
Trocar tudo por ti
se for preciso
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Soneto a Katherine Mansfield - Vinícius de Moraes

,
O teu perfume, amada — em tuas cartas
Renasce, azul... — são tuas mãos sentidas!
Relembro-as brancas, leves, fenecidas
Pendendo ao longo de corolas fartas.
,
Relembro-as, vou... nas terras percorridas
Torno a aspirá-lo, aqui e ali desperto
Paro; e tão perto sinto-te, tão perto
Como se numa foram duas vidas.
,
Pranto, tão pouca dor! tanto quisera
Tanto rever-te, tanto!... e a primavera
Vem já tão próxima! ... (Nunca te apartas
,
Primavera, dos sonhos e das preces!)
E no perfume preso em tuas cartas
À primavera surges e esvaneces.
,

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Amor - Olga Savary


,
O que será:
este labirinto de perguntas
e resposta alguma,
este insistente rugir
de pássaros, este abrir
as jaulas, soltar o bicho
novelo que há em nós,
delicado/feroz morder
(deixa sangrar)
o outro bicho (deixa, deixa)
e toda esta parafernália
a parecer truque enquanto
obsidiante você mente
embora acreditando nas mentiras
e eu use os piores estratagemas
para cobrir-me a retirada
desse vicioso campo de batalha.
,

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

DATA ESPECIAL: 1 ANO DO BLOG!!!

,,,,
,,,,, Queridos amigos e leitores!
,,,,,Estou muito feliz pois hoje este meu blog está completando um ano de existência.
,,,,,Posso dizer que o apoio, as contribuições, as sugestões e as críticas de cada um de vocês foram fundamentais para o aperfeiçoamento e para a continuidade deste blog. Sem vocês eu não teria conseguido estar aqui comemorando esta data especial.
,,,,,Sei que não tenho conseguido retribuir todas as visitas carinhosas que tenho recebido, mas na medida do possível deixarei minhas palavras em cada um de seus blogs.
,,,,,Muito obrigada a todos!
,,,,,Aproveito esta oportunidade para manifestar minha gratidão à minha maninha de coração Leonor Cordeiro pela criação do layout e apoio incondicional.
,
,,,,,Beijos primaveris, Renata.
,
,
Seu Nome - Maria Firmina dos Reis
,
Seu nome! em repeti-lo a planta, a erva,
A fonte, a solidão, o mar, a brisa
Meu peito se extasia!
Seu nome é meu alento, é-me deleite;
Seu nome, se o repito, é dúlia nota
De infinda melodia.
,
Seu nome! vejo-o escrito em letras d'ouro
No azul sideral à noite quando
Medito à beira-mar:
E sobre as mansas águas debruçada,
Melancólica, e bela eu vejo a lua,
Na praia a se mirar.
,
Seu nome! é minha glória, é meu porvir,
Minha esperança, e ambição é ele,
Meu sonho, meu amor!
Seu nome afina as cordas de minh'harpa,
Exalta a minha mente, e a embriaga
De poético odor.
,
Seu nome! embora vague esta minha alma
Em páramos desertos, – ou medite
Em bronca solidão:
Seu nome é minha idéia – em vão tentara
Roubar-mo alguém do peito – em vão – repito,
Seu nome é meu condão.
,
Quando baixar benéfico a meu leito,
Esse anjo de deus, pálido, e triste
Amigo derradeiro.
No seu último arcar, no extremo alento,
Há de seu nome pronunciar meus lábios,
Seu nome todo inteiro!...
,

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Por Casimiro de Abreu ...

,
LX
NO LEITO.
,
V.
,
Assim, – se amanhã, se logo,
Sentires na face amada
Passar um sopro de fogo
Que te queime o coração,
E uma mão fria e gelada
Comprimir a tua mão
Frisando os cabelos teus;
– Não tenhas tu vãos temores,
Pois é minh’alma, querida,
Que ao desprender-se da vida
– Toda saudade e amores –
Vai dizer-te o extremo – adeus!...
,
Agosto – 1858.
,

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Acalanto - Ada Ciocci

Vai amado.
Busca por onde quiseres,
com quem quiseres,
como quiseres,
o prazer.
Até mesmo,
aquele prazer que um dia alguém apelidou de amor.
E, se por acaso te cansares e,
do compromisso que um dia nos uniu te lembrares,
se desejares, volta.
Serei a que conforta.
Não saberás da dor,
da saudade,
das lágrimas sentidas que tua ausência causou.
,

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Soneto de Luz e Treva - Vinícius de Moraes

,
Para a minha Gesse, e para que
ilumine sempre a minha noite
,

Ela tem uma graça de pantera
No andar bem-comportado de menina.
No molejo em que vem sempre se espera
Que de repente ela lhe salte em cima.
,
Mas súbito renega a bela e a fera
Prende o cabelo, vai para a cozinha
E de um ovo estrelado na panela
Ela com clara e gema faz o dia.
,
Ela é de capricórnio, eu sou de libra
Eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã
A mim me enerva o ardor com que ela vibra
,
E que a motiva desde de manhã.
– Como é que pode, digo-me com espanto
A luz e a treva se quererem tanto...
,
Itapuã, 08.12.1971

,

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Por Pablo Neruda ...

,
"Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos
Não quero ser... sem que me olhes
Abro mão da primavera para que
continues me olhando."
,,

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Teu Olhar... - Rosângela do Valle Dias



Refletidas as luzes, sem borrões,
num mundaréu de solidões,
enxerguei o teu olhar a me fitar,
doce, amoroso, puro, luzente...
Verdadeiros brilhantes
escondidos pelo desejo
que agora,
pelas minhas sombras,
são escancarados de amor.
,
,

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O Sempre Amor - Adélia Prado


Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero.
Por causa dele falo palavras como lanças.
Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero.
Por causa dele podem entalhar-me,
Sou de pedra sabão.
Alegre ou triste,
amor é coisa que mais quero.
,