quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Por Alice Ruiz


minuto a minuto

quis

um

dia

todo azul

no teu dia

meu querer

quero crer

azulou

teu dia a dia

tudo

que podia

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Amor Bastante - Paulo Leminski



Quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Chuva nos Cabelos - Augusto Frederic o Schmidt


A chuva molhava os seus cabelos,


A chuva descia sobre os seus cabelos


Voluptuosamente.


A chuva chorava sobre os seus cabelos,


Macios,


A chuva penetrava nos seus cabelos,


Profundamente,


Até as raízes!


.
Ela era uma árvore,


Uma árvore molhada


E coberta de flores.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Adormecida - Castro Alves


Uma noite, eu me lembro... Ela dormia

Numa rede encostada molemente...

Quase aberto o roupão... solto o cabelo

E o pé descalço do tapete rente.'

Stava aberta a janela. Um cheiro agreste

Exalavam as silvas da campina...

E ao longe, num pedaço do horizonte,

Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,

Indiscretos entravam pela sala,

E de leve oscilando ao tom das auras,I

am na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago

Mesmo em sonhos a moça estremecia...

Quando ela serenava... a flor beijava-a...

Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante

Brincavam duas cândidas crianças...

A brisa, que agitava as folhas verdes,

Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...

Mas quando a via despeitada a meio,

P'ra não zangá-la... sacudia alegre

Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia

Naquela noite lânguida e sentida:

"Ó flor! — tu és a virgem das campinas!

"Virgem! — tu és a flor da minha vida!..."

domingo, 27 de janeiro de 2008

A Paixão Medida - Carlos Drummond de Andrade




Trocaica te amei, com ternura dáctila e e gesto espondeu.

Teus iambos aos meus com força entrelacei.

Em dia alcmânico, o instinto ropálico rompeu,

leonino,a porta pentâmetra.

Gemido trilongo entre breves murmúrios.

E que mais, e que mais, no crepúsculo ecóico,

senão a quebrada lembrança de latina, de grega, inumerável delícia?

sábado, 26 de janeiro de 2008

Horas de Saudade - Castro Alves



Tudo vem me lembrar que tu fugiste,

Tudo que me rodeia de ti fala.

Inda a almofada, em que pousaste a fronte

O teu perfume predileto exala

No piano saudoso, à tua espera,

Dormem sono de morte as harmonias.

E a valsa entreaberta mostra a frase

A doce frase qu'inda há pouco lias.

As horas passam longas, sonolentas...

Desce a tarde no carro vaporoso...

D'Ave-Maria o sino, que soluça,

É por ti que soluça mais queixoso.

E não vens te sentar perto, bem perto

Nem derramas ao vento da tardinha,

A caçoula de notas rutilantes

Que tua alma entornava sobre a minha.

E, quando uma tristeza irresistível

Mais fundo cava-me um abismo n'alma,

Como a harpa de Davi teu riso santo

Meu acerbo sofrer já não acalma.

É que tudo me lembra que fugiste.T

udo que me rodeia de ti fala...

Como o cristal da essência do oriente

Mesmo vazio a sândalo trescala.

No ramo curvo o ninho abandonado

Relembra o pipilar do passarinho.

Foi-se a festa de amores e de afagos...

Eras — ave do céu... minh'alma — o ninho!

Por onde trilhas — um perfume expande-se

Há ritmo e cadência no teu passo!

És como a estrela, que transpondo as sombras,

Deixa um rastro de luz no azul do espaço...

E teu rastro de amor guarda minh'alma,

Estrela que fugiste aos meus anelos!

Que levaste-me a vida entrelaçada

Na sombra sideral de teus cabelos!...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Amor - Manuel Antonio Álvares de Azevedo



Amemos!

Quero de amor

Viver no teu coração!

Sofrer e amar essa dor

Que desmaia de paixão!

Na tu'alma, em teus encantos

E na tua palidez

E nos teus ardentes prantos

Suspirar de languidez!

Quero em teus lábio beber

Os teus amores do céu,

Quero em teu seio morrer

No enlevo do seio teu!

Quero viver d'esperança,

Quero tremer e sentir!

Na tua cheirosa trança

Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,

Minha'alma, meu coração!

Que noite, que noite bela!

Como é doce a viração!

E entre os suspiros do vento

Da noite ao mole frescor,

Quero viver um momento,

Morrer contigo de amor!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Revelação - Lya Luft


Quando chegaste,
redescobri em mim inocência e alegria.
Removi a máscara que sobrava:
nada havia a esconder de ti,
nem medo - a não se partires.

Supérfluas as palavras,
dispensada a aparência, fiquei eu,
sem prumo,
como antes da primeira dúvida
e do ultimo desencanto.

Quando chegaste,
escutei meu nome como num outro tempo.
o meu lado da sombra entregou
o que ninguém via:
as feridas sem cura e a esperança sem rumo.

Começa a crer, por mim, que o amor é possível,
e que a vida vale a pena e o pranto
de cada dia.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Soneto a Quatro Mãos - Paulo Mendes Campos e Vinícius de Moraes







Tudo de amor que existe em mim foi dado.



Tudo que fala em mim de amor foi dito.



Do nada em mim o amor fez o infinito



Que por muito tornou-me escravizado.



.



Tão pródigo de amor fiquei coitado



Tão fácil para amar fiquei proscrito.



Cada voto que fiz ergueu-se em grito



Contra o meu próprio dar demasiado.



.



Tenho dado de amor mais que coubesse



Nesse meu pobre coração humano



Desse eterno amor meu antes não desse.



.



Pois se por tanto dar me fiz engano



Melhor fora que desse e recebesse



Para viver da vida o amor sem dano.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Já és Minha - Pablo Neruda


Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.

Amor, dor, trabalho, devem dormir agora.

Gira a noite sobre suas invisíveis rodas

e junto a mim és pura como âmbar dormido...


Nenhuma mais, amor, dormira com meus sonhos...

Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.


Nenhuma viajará pela sombra comigo, só tu.


Sempre viva. sempre sol... sempre lua...


Já tuas mãos abriram os punhos delicados


e deixaram cair suaves sinais sem rumo...


teus olhos se fecharam como duas asas cinzas,


enquanto eu sigo a água que levas e me leva.


A noite... o mundo... o vento enovelam seu destino,


e já não sou sem ti senão apenas teu sonho...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Que Assim te Afague - Goethe


Que assim te afague, ó meu Amor, e te ouça
.
A voz divina — como é possível?!
.
Impossível parece sempre a rosa,
.
O rouxinol inconcebível.
.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Se eu de ti me esquecer - Bernardo Guimarães


Se eu de ti me esquecer, nem mais um riso


Possam meus tristes lábios desprender;


Para sempre abandone-me a esperança,


Se eu de ti me esquecer.


.


Neguem-me auras o ar, neguem-me os bosques


Sombra amiga, em que possa adormecer,


Não tenham para mim murmúrio as águas,


Se eu de ti me esquecer.


.
Em minhas mãos em áspide se mude


No mesmo instante a flor, que eu for colher;


Em fel a fonte, a que chegar meus lábios,


Se eu de ti me esquecer.
.


Em meu peregrinar jamais encontre


Pobre albergue, onde possa me acolher;


De plaga em plaga, foragido vague,


Se eu de ti me esquecer.
.


Qual sombra de precito entre os viventes


Passe os míseros dias a gemer,


E em meus martírios me escarneça o mundo,


Se eu de ti me esquecer.


.
Se eu de ti me esquecer, nem uma lágrima


Caia sobre o sepulcro, em que eu jazer;


Por todos esquecido viva e morra,


Se eu de ti me esquecer.


.


.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Poema Matemático - Millôr Fernandes





Um Quociente apaixonou-se


Um diaDoidamente


Por uma Incógnita.


Olhou-a com seu olhar inumerável


E viu-a, do Ápice à Base...


Uma Figura Ímpar;


Olhos rombóides, boca trapezóide,


Corpo ortogonal, seios esferóides.


Fez da sua


Uma vida


Paralela a dela.


Até que se encontraram


No Infinito.


"Quem és tu?" indagou ele


Com ânsia radical.


"Sou a soma do quadrado dos catetos.


Mas pode-me chamar de Hipotenusa.


"E de falarem descobriram que eram


O que, em aritmética, corresponde


A almas irmãs


Primos-entre-si.


E assim se amaram


Ao quadrado da velocidade da luz.


Numa sexta potenciação


Traçando


Ao sabor do momento


E da paixão


Rectas, curvas, círculos e linhas senoidais.


Escandalizaram os ortodoxosdas fórmulas euclidianas


E os exegetas do Universo Finito.


Romperam convenções newtonianase pitagóricas.


E, enfim, resolveram-se a casar


Constituir um lar.


Mais que um lar.


Uma Perpendicular.


Convidaram para padrinhos


O Poliedro e a Bissectriz.


E fizeram planos, equações ediagramas para o futuro


Sonhando com uma felicidade


IntegralE diferencial.


E casaram-se e tiveram


uma secante e três cones


Muito engraçadinhos.


E foram felizes


Até aquele dia


Em que tudo, afinal,


Vira monotonia.


Foi então que surgiu


o Máximo Divisor Comum...


Frequentador de Círculos Concêntricos.


Viciosos.


Ofereceu-lhe, a ela,


Uma Grandeza Absoluta,


E reduziu-a a um Denominador Comum.


Ele, Quociente, percebeu


Que com ela não formava mais


Um Todo.


Uma Unidade.


Era o Triângulo,


Tanto chamado amoroso.


Desse problema ela era a fracção


Mais ordinária.


Mas foi então que Einstein descobriu a


Relatividade.


E tudo o que era espúrio passou a ser


Moralidade


Como aliás, em qualquer


Sociedade.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Ternura - Vinícius de Moraes


Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentado

Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...

É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta, muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
.
[ extático da aurora.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A Alma Buscada - Dorothy Parker


Quando peso os prós e os contras
das coisas que meu amor encontra
uma boca curva, um punho de fogo
um cenho interrogativo, um belo jogo
de palavras tão batido quanto o pecado
uma orelha pontuda, um queixo rachado
membros longos, agudos e olhos oblíquos
nem frios, nem meigos, nem escurecidos
Quando então pondero usando a razão
nas superficialidades que satisfazem meu coração
sou surpreendida com tal banalidade
me maravilho com a minha normalidade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Imagem - Cecília Meireles



Tão brando é o movimento

das estrelas, da lua,

das nuvens e do vento,

que se desenha a tua

face no firmamento.

.
Desenha-se tão pura

como nunca a tiveste,

nem nenhuma criatura.

Pois é sombra celeste

da terrena aventura.

.
Como um cristal se aquieta

minha vida no sono,

venturosa e completa.

E teu rosto aprisiono

em grave luz secreta.

.
Teu silêncio em meu peito

de tal maneira existe,

reconhecido e aceito,

que chego a ficar triste

de vê-lo tão perfeito.

.
E não pergunto nada.

Espero que amanheça,

e a cor da madrugada

pouse na tua cabeça

uma rosa encarnada.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Escolha - Elisa Lucinda


EU TE AMO COMO UM COLIBRI RESISTENTE
INCANSÁVEL BEIJA-FLOR
QUE SOU
BATEDORA RENITENTE DE ASAS
VICIADA NO MEL QUE ME DÁS
DEPOIS QUE ATRAVESSO O DESERTO.
PINGAS NA MINHA BOCA UMAS GOTAS POUCAS
DO QUE NEM É UMA VACINA.
EU UMA MULHER, UMA AVE, UMA MENINA...
ASSIM CHACINAS O MEU TEMPO DE EREMITA:

QUEBRAS A BENGALA ONDE ME APOIEI,
RASGAS MINHAS MEIAS
AS QUE VESTIRAM MEUS PÉS
QUANDO CAMINHEI AS AREIAS.
EU TE AMO COMO QUEM ESQUECE TUDO DIANTE DE UM BEIJO:
AS INÚMERAS HORAS DESBEIJADAS
OS TERRÍVEIS DESABRAÇOS
OS DOLOROSOS DESENCAIXES
QUE MEU CORPO SOFREU LONGE DO SEU.
ELEJO SEMPRE O ENCONTRO
ELE É O PONTO DE CROCHÊ.
PENÉLOPE INVERTIDA
NADA COMEÇO DE NOVO
NADA DESMANCHO
NADA VOLTO.
TEÇO UM NOVO TECIDO DE AMOR ETERNO
A CADA OLHAR SEU DE AFETO
NÃO LIGO PARA NADA QUE DOEU.
SÓ PARA O QUE DEIXOU DE DOER TENHO OLHOS.
CEGA DO INFORTÚNIO
PESCO OS PEIXES DOS NOSSOS ENCAIXES
AS CONFISSÕES DE AMOR
AS PALAVRAS FUNDAS DE PRAZER
AS ESCULTURAS ASTECAS QUE NOS FIXAM
NA HISTÓRIA DOS DIAS.

sábado, 12 de janeiro de 2008

De Hilda Hilst...


Que este amor não me cegue nem me siga.

E de mim mesma nunca se aperceba. Que me exclua do estar sendo perseguida E do tormento
De só por ele me saber estar sendo. Que o olhar não se perca nas tulipas Pois formas tão perfeitas de beleza Vêm do fulgor das trevas. E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Aqui Eu te Amo - Pablo Neruda


Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.

Fosforesce a lua sobre as águas errantes.

Andam dias iguais a perseguir-se.


Define-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

Às vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.


Ou a cruz negra de um barco.

Só. Às vezes amanheço, e minha alma está úmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Isto é um porto.

Aqui eu te amo.


Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.

Às vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,

que correm pelo mar rumo a onde não chegam.


Já me creio esquecido como estas velha âncoras.

São mais tristes os portos ao atracar da tarde.

Cansa-se minha vida inutilmente faminta...

Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.


Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.

Mas a noite enche e começa a cantar-me.

A lua faz girar sua arruela de sonho.


Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros no vento,

querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Flor de Açucena - Thiago de Mello


Quando acariciei o teu dorso,

campo de trigo dourado,

minha mão ficou pequena

como uma flor de açucena

que delicada desmaia

sob o peso do orvalho.

Mas meu coração cresceu

e cantou como um menino

deslumbrado pelo brilho

estrelado dos teus olhos.

Saudade - Mário Quintana


Na solidão na penumbra do amanhecer.

Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,

nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
.
Via você no ontem, no hoje, no amanhã...

Mas não via você no momento.
.
Que saudade...
.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Os Versos que Te Fiz - Florbela Espanca


Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Por Nélson Rodrigues


“ Se eu pudesse - se os deuses permitissem –

teria assistido hoje ao seu despertar.

E, então, teria feito uma festa

de luz, de cor, de aroma.

Eu transportaria para tua alcova

toda a vibração musical da aurora,

todo o estremecimento solar.

E teria enfeitado os teus cabelos

com o mais lúcido e macio dos raios de luz;

e teria espargido sobre os teus ombros

o perfume mais suave da manhã;

e teria prendido no teu riso a pétala mais diáfana.

E, quando te levantasse,

eu faria com que pisasse rosas frescas e voluptuosas;

e assim teus pés teriam como que sandálias de perfume."

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Amor - Khalil Gibran



"Quando o amor acenar,

siga-o ainda que por caminhos ásperos e íngremes.

E quando suas asas o envolverem,

renda-se a ele ainda que a lâmina escondida
.
sob suas asas possa feri-lo.

E quando ele falar a você, acredite no que ele diz,

ainda que sua voz possa destroçar seus sonhos,

assim como o vento norte devasta o jardim.

Pois, se o amor o coroa, ele também o crucifica.

Se o ajuda a crescer, também o diminui.

Se o faz subir às alturas e acaricia seus ramos
.
mais tenros que tremem ao sol,

também o faz descer às raízes e abala a sua ligação com a terra.

Como os feixes de trigo, ele o mantém íntegro.

Debulha-o até deixá-lo nu.

Transforma-o, livrando-o de sua palha.

Tritura-o, até torná-lo branco.

Amassa-o, até deixá-lo macio;

e então submete ao fogo para que se transforme

em pão no banquete sagrado de Deus.

Todas essas coisas pode o amor fazer para que você

conheça os segredos do seu coração,

e com esse conhecimento se torne
.
um fragmento do coração da Vida."

domingo, 6 de janeiro de 2008

Mário Lago


Gosto e preciso de ti.

Mas, quero logo explicar:

não gosto porque preciso.

Preciso sim, por gostar.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Espero - Raul David



Por ti espero
desde que partiste
e aguardo o teu recado
em cada pessoa que chega;
Olho para os caminhos
todas as manhãs
na esperança de nos encontrarmos.
O cacimbo passou.
Nova folhagem cobrirá
daqui a pouco
a floresta
e tu não vens.
Depois
serão as chuvas...
De tanto te esperar
já sonho que chegaste.
Desperto ao latir dos cães
julgando ter chegado
quem vem bater-me à porta.
Esta esperança vã
é um tormento que em mim cresce
dia a dia.
.
.

Ar de Noturno - Federico García Lorca



Tenho muito medo

das folhas mortas,

medo dos prados

cheios de orvalho.

eu vou dormir;

se não me despertas,

deixarei a teu lado meu coração frio.

.
O que é isso que soa

bem longe ? Amor.

O vento nas vidraças,

amor meu !

.
Pus em ti colares

com gemas de aurora.

Por que me abandonas

neste caminho ?

Se vais muito longe,

meu pássaro chora

e a verde vinha

não dará seu vinho.

.
O que é isso que soa

bem longe ?

Amor. O vento nas vidraças,

amor meu !

.
Nunca saberás,

esfinge de neve,

o muito que eu

haveria de te querer

essas madrugadas

quando chove

e no ramo seco

se desfaz o ninho.

.
O que é isso que soa

bem longe ? Amor.

O vento nas vidraças,

amor meu !
.

( tradução: William Agel de Melo )

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Acalentando Sonhos - Rita Camargo Caldas


Enquanto houver estrelas

Enquanto houver luar

Embalados nas asas da poesia

Podemos sonhar...

Embarcamos neste sonho

Navegando com ilusão

Grandes vagas nos assombram

Arrastados pela correnteza

O intrépido vento a sibilar

O raivoso trovejar, lampeja

Trazendo a fria chuva a fustigar

.

A tempestade findou...

O mar serenou...

Céu azul, mar anil...

Alegres gaivotas em revoadas

A brisa leve exala um perfume

Com suave fragrância

De primavera

De flores e de amores

.

Aportamos em ancoradouro seguro

A vida com esperança

Desabrocha em nós...

Em cada flor

Em cada pássaro

Em cada amor