sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Por Camilo Castelo Branco ...


..........A verdade é algumas vezes o escolho de um romance.

..........Na vida real, recebemo-la como ela sai dos encontrados casos, ou da lógica implacável das coisas; mas, na novela, custa-nos a sofrer que o autor, se inventa, não invente melhor; e, se copia, não minta por amor da arte.
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Um romance que estriba na verdade o seu merecimento é frio, é impertinente, é uma coisa que não sacode os nervos, nem a gente, sequer uma temporada, enquanto ele nos lembra, deste jogo de nora, cujos alcatruzes somos, uns a subir, outros a descer, movidos pela manivela do egoísmo.
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A verdade! Se ela é feia, para que oferecê-la em painéis ao público!?
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A verdade do coração humano! Se o coração humano tem filamentos de ferro que o prendem ao barro doente saiu, ou pesam nele e o submergem no charco da culpa primitiva, para que é emergi-lo, retratá-lo e pô-lo à venda!?
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..........Os reparos são de quem tem o juízo no seu lugar; mas, pois que eu perdi o meu a estudar a verdade, já agora a desforra que tenho é pintá-la como ela é feia e repugnante.
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A desgraça afervora ou quebranta o amor?"
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Fonte: CASTELO BRANCO, Camilo. Coisas que só eu sei. Lisboa : Relógio d’Água Editores , 1990. (Clássicos portugueses).
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Um comentário:

Sonia Regly disse...

Linda Amiga,
Têm selo de presente para vc lá no Blog. Beijinhos.