segunda-feira, 21 de abril de 2008

Os Poderes Infernais - Carlos Drummond de Andrade


O meu amor faísca na medula,
pois que na superfície ele anoitece.
Abre na escuridão sua quermesse.
É todo fome, e eis que repele a gula.
,
Sua escama de fel nunca se anula
e seu rangido nada tem de prece.
Uma aranha invisível é que o tece.
O meu amor, paralisado, pula.
,
Pulula, ulula. Salve, lobo triste!
Quando eu secar, ele estará vivendo,
já não vive de mim, nele é que existe
.
o que sou, o que sobro, esmigalhado.
O meu amor é tudo que, morrendo,
não morre todo, e fica no ar, parado.
.

Um comentário:

Anônimo disse...

Menina do sul meus parabéns pelo blog! Abraços do novo amigo Sérgio Amaral.