terça-feira, 1 de abril de 2008

Da Saudade - Cecília Meireles


A natureza da saudade é ambígua: associa sentimentos de solidão e tristeza – mas, iluminada pela memória, ganha contorno e expressão de felicidade. Quando Garrett a definiu como “delicioso pungir de acerbo espinho”, estava realizando a fusão desses dois aspectos opostos na fórmula feliz de um verso romântico.Em geral, vê-se na saudade o sentimento de separação e distância daquilo que se ama e não se tem. Mas todos os instantes da nossa vida não vão sendo perda, separação e distância? O nosso presente, logo que alcança o futuro, já o transforma em passado. A vida é constante perder. A vida é, pois, uma constante saudade.Há uma saudade queixosa: a que desejaria reter, fixar, possuir. Há uma saudade sábia, que deixa as coisas passarem , como se não passassem. Livrando-as do tempo, salvando a sua essência da eternidade. É a única maneira, aliás, de lhes dar permanência: imortalizá-las em amor . O verdadeiro amor é, paradoxalmente, uma saudade constante, sem egoísmo nenhum.
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2 comentários:

Manuel Marques disse...

não sou católico... nem apostólico, talvez tivesse sido romano noutra encarnação. Mas pequenas pérolas como este texto só podem sair de seres extraórdinários como é Cecília Meireles... lindo como sempre!!! Bjs amiga Renata!

Tânia N. disse...

Lindo texto...ela era demais!
Beijos nossos,