sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Aqui Eu te Amo - Pablo Neruda


Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.

Fosforesce a lua sobre as águas errantes.

Andam dias iguais a perseguir-se.


Define-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

Às vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.


Ou a cruz negra de um barco.

Só. Às vezes amanheço, e minha alma está úmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Isto é um porto.

Aqui eu te amo.


Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.

Às vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,

que correm pelo mar rumo a onde não chegam.


Já me creio esquecido como estas velha âncoras.

São mais tristes os portos ao atracar da tarde.

Cansa-se minha vida inutilmente faminta...

Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.


Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.

Mas a noite enche e começa a cantar-me.

A lua faz girar sua arruela de sonho.


Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros no vento,

querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.

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