quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Poema Matemático - Millôr Fernandes





Um Quociente apaixonou-se


Um diaDoidamente


Por uma Incógnita.


Olhou-a com seu olhar inumerável


E viu-a, do Ápice à Base...


Uma Figura Ímpar;


Olhos rombóides, boca trapezóide,


Corpo ortogonal, seios esferóides.


Fez da sua


Uma vida


Paralela a dela.


Até que se encontraram


No Infinito.


"Quem és tu?" indagou ele


Com ânsia radical.


"Sou a soma do quadrado dos catetos.


Mas pode-me chamar de Hipotenusa.


"E de falarem descobriram que eram


O que, em aritmética, corresponde


A almas irmãs


Primos-entre-si.


E assim se amaram


Ao quadrado da velocidade da luz.


Numa sexta potenciação


Traçando


Ao sabor do momento


E da paixão


Rectas, curvas, círculos e linhas senoidais.


Escandalizaram os ortodoxosdas fórmulas euclidianas


E os exegetas do Universo Finito.


Romperam convenções newtonianase pitagóricas.


E, enfim, resolveram-se a casar


Constituir um lar.


Mais que um lar.


Uma Perpendicular.


Convidaram para padrinhos


O Poliedro e a Bissectriz.


E fizeram planos, equações ediagramas para o futuro


Sonhando com uma felicidade


IntegralE diferencial.


E casaram-se e tiveram


uma secante e três cones


Muito engraçadinhos.


E foram felizes


Até aquele dia


Em que tudo, afinal,


Vira monotonia.


Foi então que surgiu


o Máximo Divisor Comum...


Frequentador de Círculos Concêntricos.


Viciosos.


Ofereceu-lhe, a ela,


Uma Grandeza Absoluta,


E reduziu-a a um Denominador Comum.


Ele, Quociente, percebeu


Que com ela não formava mais


Um Todo.


Uma Unidade.


Era o Triângulo,


Tanto chamado amoroso.


Desse problema ela era a fracção


Mais ordinária.


Mas foi então que Einstein descobriu a


Relatividade.


E tudo o que era espúrio passou a ser


Moralidade


Como aliás, em qualquer


Sociedade.

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