terça-feira, 25 de novembro de 2008

Lúbrica - Cesário Verde



Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.
*
Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!
*
Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!
*
Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:
*
Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.
*
Teus olhos sensuais,
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.
*
As grandes comoções
Tu neles sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas
*
-Teus olhos imorais,
Mulher que me dissecas,
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!
*

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