quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Esfinge - Teófilo Dias

Tuas pupilas alaga
Não sei que acerba ternura,
Cuja luz cruel me afaga,
Cujo afago me tortura.
,
Unge-te o seio moreno
Um perfume sufocante,
Suave como um calmante,
Pérfido como um veneno.
,
Freme-te a alma fatal
No frágil corpo nervoso,
Como um filtro perigoso
Numa prisão de cristal.
+
Para estancar os desejos,
Que teu sangue tantalizam,
Teus lábios prodigalizam
Dentadas por entre beijos.
,
Com sarcasmo me apunhalas;
Depois, as feridas cruas
Ameigas com a luz que exalas
Dos teus olhos, - negras luas.
,
Tua palavra me é dura
Às vezes, pelo sentido,
E doce pela brandura
Com que me trina no ouvido.
,
Há uma alma que suspira
Em cada ponto do espaço
Quando caminhas: teu passo
Murmura como uma lira.
,
No movimento discreto
Revelas, por entre gazes,
Todo um poema correto
Escrito em versos sem frases.
,
Os teus lençois apaixonas
Com a gentileza que apuras
Nas langorosas posturas
Em que o teu corpo abandonas.
,
Dos primores, de que és feita,
A nenhum dou primazia:
É do conjunto a harmonia
Que os meus sentidos sujeita.
,
E eu te amo, beleza fátua,
Minha perpétua loucura,
Como o verme a flor mais pura,
E o musgo a mais bela estátua!
,

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