quinta-feira, 20 de março de 2008

Graças te Rendo... - Emiliano Perneta


Graças te rendo aqui, preciosa Senhora,

Que, num simples olhar de ternura, tiveste

O dom de me elevar, assim como o fizeste,

Entre os brasões do amor e as púrpuras d'aurora...


O dom de me fazer acreditar que veste

O humano coração, como acredito agora,

Não o lodo, porém, o linho; que se adora,

O linho que fulgura em pleno azul-celeste...


Sei que os votos que são trabalhados com arte

Hão de os deuses cumprir, ó luz maravilhosa:

— Sê, pois, bendita, sê bendita em toda parte!


Que onde fores pisar, que por onde tu fores:

A lama se transforme em pétalas de rosa,

As víboras em fruto, os espinhos em flores!

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Emiliano Daví Perneta (Sítio dos Pinhais PR 1866-1921) Incorporando ao sobrenome um apelido de seu pai, já nisso revela a excentricidade que o caracterizou, desde o traje até o ultraje ao Sistema: republicano no Império, abolicionista na escravocracia, simbolista como reação ao parnasianismo que o formara. Como demorou para reunir sua obra, passou despercebido da crítica, embora fosse influente entre os paranaenses. Metaforicamente esquisitos, seus sonetos são conservadores na forma e às vezes naquele medo da modernidade, típico dos simbolistas quando se refugiavam num passadismo, menos que decadentista, decadista, isto é, de décadas em vez de séculos.


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