
segunda-feira, 31 de março de 2008
Meus Rabiscos ...

Compartilhar - Renata Christina
O amor não é feito apenas de bons momentos e por isso não há como vivê-lo plenamente
se não houver compartilha. Um deve buscar no outro apoio e refúgio nas horas difíceis. Viver enclausurado no silêncio não faz parte da lealdade tão comum na vida a dois.
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sábado, 29 de março de 2008
Por Ana Cristina Cesar
sexta-feira, 28 de março de 2008
O Momento do Amor - Guilherme de Almeida

O relógio de mogno, antigo, grave, enorme
dorme na angústia silenciosa dos imensos salões abandonados,
na alma dos Gobelins,
na vida misteriosa dos espelhos fanados...
Dorme parado e marca uma hora do passado,
uma hora velha,
uma hora de outrora...
E lembra-se da mão que abrira,
um dia, uma arca de pau santo, e tirara a peruca,
os pantufos e o vestido de tufos,
para o minuete,
sobre a volúpia do tapete...
E recorda-se então da marquesinha empoada,
afogada em cetins, espartilhada:
uma estatueta de faiança...
E do cravo de Holanda
que rompera ao compasso de uma dança,
que era um sonho de sons na tarde cor de cera...
E do galante fidalgo que, apoiado ao bastão de porcelana,
num passo airoso de galgo, leve como uma renda valenciana,
tomara docemente a mão medrosa e pura da Marquesinha
toda século XVIII e numa velha mesura,
muito cortez e algum tanto de afoito,
como se todos os sentidos aflorassem-lhe a boca,
num momento, beijou-lhe a boca, num momento,
beijou-lhe os lábios distraídos, num beijo esplêndido e violento!
O relógio viu tudo...
E, no velho silêncio de veludo
que a música rascante desse beijo bruscamente
eriçou, tremeu, ciumento e mudo, a frente do cortejo das horas...
e parou! Parou... E agora, imóvel mas radiante,
vive marcando com saudade o instante desse beijo, a
quele instante que ficou sendo uma serena eternidade...
Há corações que param no passado...
No seu silêncio sagrado
Eles repetem agora um silêncio de outrora...
É o silêncio que existe na furtiva,
na saudosa atitude da boca que se entrega,
ou que se esquiva da mão que diz adeus
ou que lança uma flor...
Porque há uma eternidade,
há um céu que não ilude no momento do amor!
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(Fonte: www.blocosonline.com.br)
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quinta-feira, 27 de março de 2008
Horas Vivas - Machado de Assis

Que esplendores!
Cíntia sonha amores
Pelo céu.
Tênues as neblinas
Às campinas
Descem das colinas
Como um véu.
Mãos em mãos travadas
Animadas,
Vão aquelas fadas
Pelo ar
Soltos os cabelos,
Em novelos
Puros, louros, belos
A voar.
"Homem, nos teus dias
Que agonias
Sonhos, utopias,
Ambições;
Vivas e fagueiras,
As primeiras
Como as derradeiras Ilusões!
Quantas, quantas vidas
Vão perdidas,
Pombas malferidas
Pelo mal!
Anos após anos,
Tão insanos
Vêm os desenganos
Afinal.
Dorme: se os pesares
Repousares.
Vês? —por estes ares
Vamos rir;
Mortas, não; festivas,
E lascivas,
Somos—horas vivas
De dormir. —"
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quarta-feira, 26 de março de 2008
Amor no Éter - Adélia Prado

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam: como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar entre meio-dia e duas horas da tarde.
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terça-feira, 25 de março de 2008
Frémito do Meu Corpo - Florbela Espanca

Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
.
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
.
E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...
.
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
.
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
.
E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...
.
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
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segunda-feira, 24 de março de 2008
Emotividade da Cor - Gilka Machado

Sete cores — sete notas erradias,
sete notas da música do olhar,
sete notas de etéreas melodias,
de sons encantadores
que se compõem entre si,
formando outras tantas cores,
do cinzento que cisma ao jade que sorri.
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Há momentos
Há momentos
em que a cor nos modifica os sentimentos,
ora fazendo bem, ora fazendo mal;
em tons calmos ou violentos,
a cor é sempre comunicativa,
amortece, reaviva,tal a sua expressão emocional.
.
Lançai olhares investigadores
Lançai olhares investigadores
para a mancha dos poentes:
há cores que são ecos de outras cores,
cores sem vibrações, cores esfalecentes,
melodias que o olhar somente escuta,
na quietude absoluta,
ao Sol se pôr...
Quem há que inda não tenha percebido
o subjetivo ruídoda harmonia da cor?
.
(...)
(...)
.
— A Cor é o aroma em corpo e embriaga pelo olhar.
— A Cor é o aroma em corpo e embriaga pelo olhar.
Cor é soluço, cor é gargalhada,
cor é lamento, é suspiro,
e grito de alma desesperada!
Muitas vezes a cor ao som prefiro
porque a minha emoção é igual à sua:
— parada, estatelada
dizendo tudo, sem que diga nada,
no prazer ou na dor.
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Olhar a cor
Olhar a cor
é ouvi-la,
numa expressão tranquila,falar de todas as sensações
caladas, dos corações;
no entanto, a cor tem brados,
mas brados estrangulados,
mágoas contidas,
mudo querer,
ânsia, fervor, emotividade
de desconhecidas
vidas,
que se ficaram na vontade,
que não conseguiram ser...
.
Cores são vagas, sugestivas toadas...
Cores são vagas, sugestivas toadas...
Cores são emoções paralisadas...
.
.
(...)
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sábado, 22 de março de 2008
Sentir-se Amado - Martha Medeiros

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama..
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
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Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.
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A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?
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Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.
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Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".
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Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato.
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"Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
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Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.
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sexta-feira, 21 de março de 2008
Por Pablo Neruda
quinta-feira, 20 de março de 2008
Graças te Rendo... - Emiliano Perneta

Graças te rendo aqui, preciosa Senhora,
Que, num simples olhar de ternura, tiveste
O dom de me elevar, assim como o fizeste,
Entre os brasões do amor e as púrpuras d'aurora...
O dom de me fazer acreditar que veste
O humano coração, como acredito agora,
Não o lodo, porém, o linho; que se adora,
O linho que fulgura em pleno azul-celeste...
Sei que os votos que são trabalhados com arte
Hão de os deuses cumprir, ó luz maravilhosa:
— Sê, pois, bendita, sê bendita em toda parte!
Que onde fores pisar, que por onde tu fores:
A lama se transforme em pétalas de rosa,
As víboras em fruto, os espinhos em flores!
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Emiliano Daví Perneta (Sítio dos Pinhais PR 1866-1921) Incorporando ao sobrenome um apelido de seu pai, já nisso revela a excentricidade que o caracterizou, desde o traje até o ultraje ao Sistema: republicano no Império, abolicionista na escravocracia, simbolista como reação ao parnasianismo que o formara. Como demorou para reunir sua obra, passou despercebido da crítica, embora fosse influente entre os paranaenses. Metaforicamente esquisitos, seus sonetos são conservadores na forma e às vezes naquele medo da modernidade, típico dos simbolistas quando se refugiavam num passadismo, menos que decadentista, decadista, isto é, de décadas em vez de séculos.
quarta-feira, 19 de março de 2008
Por Arnaldo Jabor
terça-feira, 18 de março de 2008
Saudade - Gilka Machado

De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?
De quem é esta saudade,
De quem é esta saudade,
de quem?
Aquelas mãos só carícias,
Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...
E estes dedos engelhados,
E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...
De quem é esta saudade
De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?
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segunda-feira, 17 de março de 2008
No Telefone - Neide de Camargo Dorneles

tua voz
penetra no meu ouvido
e percorre, atrevida,
meu corpo todo
que de imediato se acende,
em chamas
de desejo alerta...
E assim aberta,
sorvo,
absorvo,
palavras
cheias de mãos,
bocas,
delírios...
E nesse instante,
puro deleite,
eixo que me desnudes
com calma,
e bem devagar
me inundes
corpo e alma.
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Fonte: http://www.interpoetica.com
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domingo, 16 de março de 2008
Intimidade - Leonor Cordeiro
sábado, 15 de março de 2008
Presente - Renata Christina
sexta-feira, 14 de março de 2008
Apenas um Encontro - Renata Christina
Nossos devaneios encontraram-se,
Rabiscamos um céu de poemas
Flores enfeitavam nossos rostos.
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Na relva do mundo do faz-de-conta,
Andamos de pés descalços,
Pescamos estrelas cintilantes e
Enfeitamos nossos versos.
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Alcançamos o grandioso mar onde
Promessas foram feitas,
Assim como um belo poema
Para eternizar o inesquecível momento.
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quinta-feira, 13 de março de 2008
Amor - O Interminável Aprendizado / Affonso Romano de Sant'Anna

Criança, ele pensava: amor, coisa que os adultos sabem. Via-os aos pares namorando nos portões enluarados se entrebuscando numa aflição feliz de mãos na folhagem das anáguas. Via-os noivos se comprometendo à luz da sala ante a família, ante as mobílias; via-os casados, um ancorado no corpo do outro, e pensava: amor, coisa-para-depois, um depois-adulto-aprendizado.
Se enganava.
Se enganava porque o aprendizado de amor não tem começo nem é privilégio aos adultos reservado. Sim, o amor é um interminável aprendizado.
Por isto se enganava enquanto olhava com os colegas, de dentro dos arbustos do jardim, os casais que nos portões se amavam. Sim, se pesquisavam numa prospecção de veios e grutas, num desdobramento de noturnos mapas seguindo o astrolábio dos luares, mas nem por isto se encontravam. E quando algum amante desaparecia ou se afastava, não era porque estava saciado. Isto aprenderia depois. É que fora buscar outro amor, a busca recomeçara, pois a fome de amor não sabia nunca, como ali já não se saciara.
De fato, reparando nos vizinhos, podia observar. Mesmo os casados, atrás da aparente tranqüilidade, continuavam inquietos. Alguns eram mais indiscretos. A vizinha casada deu para namorar. Aquele que era um crente fiel, sempre na igreja, um dia jogou tudo para cima e amigou-se com uma jovem. E a mulher que morava em frente da farmácia, tão doméstica e feliz, de repente fugiu com um boêmio, largando marido e filhos.
Então, constatou, de novo se enganara. Os adultos, mesmo os casados, embora pareçam um porto onde as naus já atracaram, os adultos, mesmo os casados, que parecem arbustos cujas raízes já se entrançaram, eles também não sabem, estão no meio da viagem, e só eles sabem quantas tempestades enfrentaram e quantas vezes naufragaram.
Então, constatou, de novo se enganara. Os adultos, mesmo os casados, embora pareçam um porto onde as naus já atracaram, os adultos, mesmo os casados, que parecem arbustos cujas raízes já se entrançaram, eles também não sabem, estão no meio da viagem, e só eles sabem quantas tempestades enfrentaram e quantas vezes naufragaram.
Depois de folhear um, dez, centenas de corpos avulsos tentando o amor verbalizar, entrou numa biblioteca. Ali estavam as grandes paixões. Os poetas e novelistas deveriam saber das coisas. Julietas se debruçavam apunhaladas sobre o corpo morto dos Romeus, Tristãos e Isoldas tomavam o filtro do amor e ficavam condenados à traição daqueles que mais amavam e sem poderem realizar o amor.
O amor se procurava. E se encontrando, desesperava, se afastava, desencontrava.
Então, pensou: há o amor, há o desejo e há a paixão.
O desejo é assim: quer imediata e pronta realização. É indistinto. Por alguém que, de repente, se ilumina nas taças de uma festa, por alguém que de repente dobra a perna de uma maneira irresistivelmente feminina.
Já a paixão é outra coisa. O desejo não é nada pessoal. A paixão é um vendaval. Funde um no outro, é egoísta e, em muitos casos, fatal.
O amor soma desejo e paixão, é a arte das artes, é arte final.
Mas reparou: amor às vezes coincide com a paixão, às vezes não.
Amor às vezes coincide com o desejo, às vezes não.
Amor às vezes coincide com o casamento, às vezes não.
E mais complicado ainda: amor às vezes coincide com o amor, às vezes não.
Absurdo.
Como pode o amor não coincidir consigo mesmo?
Adolescente amava de um jeito. Adulto amava melhormente de outro. Quando viesse a velhice, como amaria finalmente? Há um amor dos vinte, um amor dos cinqüenta e outro dos oitenta? Coisa de demente.
Não era só a estória e as estórias do seu amor. Na história universal do amor, amou-se sempre diferentemente, embora parecesse ser sempre o mesmo amor de antigamente.
Estava sempre perplexo. Olhava para os outros, olhava para si mesmo ensimesmado.
Não havia jeito. O amor era o mesmo e sempre diferenciado.
O amor se aprendia sempre, mas do amor não terminava nunca o aprendizado.
Optou por aceitar a sua ignorância.
Em matéria de amor, escolar, era um repetente conformado.
E na escola do amor declarou-se eternamente matriculado.
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quarta-feira, 12 de março de 2008
Aproximação - Tom Reiss

Te chamo com pincéis ......................me chamas com olhares
aquarelas e alma aberta.....................pares maliciosos
coberta de manto e cores.................. dissecando meus segredos
matizando tuas telas........................vacilantes de medo
aquarelas e alma aberta.....................pares maliciosos
coberta de manto e cores.................. dissecando meus segredos
matizando tuas telas........................vacilantes de medo
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Te chamo em catedrais.....................me chamas com papéis
vitrais que permeiam .................. ....poesias e ritmo certo
penumbras emoções.........................deixando-me prosa
flutuando teus oráculos......................nas linhas do teu conto
Te chamo em catedrais.....................me chamas com papéis
vitrais que permeiam .................. ....poesias e ritmo certo
penumbras emoções.........................deixando-me prosa
flutuando teus oráculos......................nas linhas do teu conto
.
Te chamo às ladeiras........................me chamas às praças
conduzindo-te às nuvens....................vermelhas em chama
da minha insensatez.........................na cama bacante
devassa dos teus pensamento..............recobrindo-me de gozo
Te chamo às ladeiras........................me chamas às praças
conduzindo-te às nuvens....................vermelhas em chama
da minha insensatez.........................na cama bacante
devassa dos teus pensamento..............recobrindo-me de gozo
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...............Me chamas.....................te chamo
...............mais chamas...................mais camas
...............entrelaçando-nos............. despedaçando-nos
...............em dois corpos............... em nus corpos
...............em um......................... dueto
.
...............Me chamas.....................te chamo
...............mais chamas...................mais camas
...............entrelaçando-nos............. despedaçando-nos
...............em dois corpos............... em nus corpos
...............em um......................... dueto
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.................................solo
................................
terça-feira, 11 de março de 2008
XIII A Anália - Almeida Garret

Salve dia d'amor sempre jucundo!
Anália encantadora
Nesta risonha aurora
Para me aventurar vieste ao mundo.
Anália encantadora
Nesta risonha aurora
Para me aventurar vieste ao mundo.
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Quando assomar no apavonado oriente
Amor te viu fagueiro,
As frechas prazenteiro
Aguçou, e sorriu todo contente:
Quando assomar no apavonado oriente
Amor te viu fagueiro,
As frechas prazenteiro
Aguçou, e sorriu todo contente:
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Fugiu da mãe aos amorosos braços,
E em teu rosto divino
Depor foi, de contino,
Encantos, filtros e amorosos laços.
Fugiu da mãe aos amorosos braços,
E em teu rosto divino
Depor foi, de contino,
Encantos, filtros e amorosos laços.
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Assim me enfeitiçaste! - assim rendida
Trago alma e coração,
Que, sem esta prisão,
Nem eu já sei viver nem quero a vida.
Assim me enfeitiçaste! - assim rendida
Trago alma e coração,
Que, sem esta prisão,
Nem eu já sei viver nem quero a vida.
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Anália, amado bem, tão fausto dia
Celebremos contentes;
E as flores inocentes
Colhamos desta vida fugidia:
Anália, amado bem, tão fausto dia
Celebremos contentes;
E as flores inocentes
Colhamos desta vida fugidia:
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O tempo voa, as horas despedidas
Tão ligeiras decorrem,
Murcham tão breve e morrem
Rosas que do prazer não são colhidas!...
.
O tempo voa, as horas despedidas
Tão ligeiras decorrem,
Murcham tão breve e morrem
Rosas que do prazer não são colhidas!...
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Porto - 1819.
segunda-feira, 10 de março de 2008
Poema da Amante - Adalgisa Nery

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.
sexta-feira, 7 de março de 2008
Teu Riso - Pablo Neruda

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria..
quinta-feira, 6 de março de 2008
(Cabelos onde o amor s'esconde manso) - Sarmento Menna

Cabelos onde o amor s'esconde manso,
e com eles brincando ocultamente,
dispara do arco ebúrneo a seta ardente,
que humanos peitos ferem sem descanso;
.
cabelos, cujo mimo m'esperanço
cabelos, cujo mimo m'esperanço
de obter de tua mão ditosamente;
cabelos de um escuro reluzente,
que de os ver, admirar jamais me canso;
.
cabelos, cuja cor tem meus cuidados;
cabelos com que um deus prende,
domina e abranda corações petrificados;
.
são os teus, venturosa Carolina,
são os teus, venturosa Carolina,
cópia de graças, dos louçãos agrados,
formosura sem par, mortal divina.
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quarta-feira, 5 de março de 2008
Se tu viesses ver-me... - Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
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Quando me lembra: esse sabor que tinha
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos... O
teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
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Se tu viesses quando, linda e louca,
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
.
E é como um cravo ao sol a minha boca...
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
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terça-feira, 4 de março de 2008
Para Viver Um Grande Amor - Vinícius de Moraes
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Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
segunda-feira, 3 de março de 2008
domingo, 2 de março de 2008
Esboço - Gilka Machado

Teus lábios inquietos
pelo meu corpo
acendiam astros...
e no corpo da mata
os pirilampos
de quando em quando,
insinuavam
fosforecentes carícias...
e o corpo do silêncio estremecia,
chocalhava,com os guizos
do cri-cri osculante
dos grilos que imitavam
a música de tua boca...
e no corpo da noite
as estrelas cantavam
com a voz trêmula e rútila
de teus beijos...
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