sexta-feira, 30 de maio de 2008

Amor, então - Paulo Leminski



Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.
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quinta-feira, 29 de maio de 2008

Eu te Amo - Chico Buarque


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Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.
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terça-feira, 27 de maio de 2008

Conhecimento do Amor - Dante Milano

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Se o fruto já maduro da experiência
Me deu de amor algum conhecimento,
Só sei dizer que o seu entendimento
É saber que transcende toda ciência.
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Com que palavras o direi? — "Paciência"
Ou "Impaciência", "Alento" ou "Desalento".
Quereis outra palavra? "Alheamento"
.Outra? "Presença" ou sua igual "Ausência".
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Esquecimento de si mesmo: olvido.
Quantas vezes morri sem ter morrido,
Sem sentir ao morrer nenhuma dor.
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Nem a morte é culpada de tal morte,
Até a deseja o amante em seu transporte:
Só ela é eterna como o seu amor.
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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Entre o Ser e as Coisas - Carlos Drummond de Andrade


Onda e amor, onde amor, ando indagando

ao largo vento e à rocha imperativa,

e a tudo me arremesso, nesse quando

amanhece frescor de coisa viva.

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As almas, não, as almas vão pairando,

e, esquecendo a lição que já se esquiva,

tornam amor humor, e vago e brando

o que é de natureza corrosiva.

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N´água e na pedra amor deixa gravados

seus hieróglifos e mensagens, suas

verdades mais secretas e mais nuas.

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E nem os elementos encantados

sabem do amor que os punge e que é, pungido,

uma fogueira a arder no dia findo.

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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Se se Morre de Amor - Gonçalves Dias


(...)
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-lo, sem poder fitar seus olhos,
Amá-lo, sem ousar dizer que amamos, (...)
Arder por afogá-lo em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
(...)

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quarta-feira, 21 de maio de 2008

Musa Impassível I - Francisca Júlia



Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho, e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.
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Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave o idílico descante.
Celebra ora um fantasma angüiforme de Dante;
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.
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Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;
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Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.
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terça-feira, 20 de maio de 2008

Musa Impassível II - Francisca Júlia



Ó Musa, cujo olhar de pedra, que não chora,
Gela o sorriso ao lábio e as lágrimas estanca!
Dá-me que eu vá contigo, em liberdade franca,
Por esse grande espaço onde o impassível mora.
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Leva-me longe, ó Musa impassível e branca!
Longe, acima do mundo, imensidade em fora,
Onde, chamas lançando ao cortejo da aurora,
O áureo plaustro do sol nas nuvens solavanca.
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Transporta-me de vez, numa ascensão ardente,
À deliciosa paz dos Olímpicos-Lares
Onde os deuses pagãos vivem eternamente,
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E onde, num longo olhar, eu possa ver contigo
Passarem, através das brumas seculares,
Os Poetas e os Heróis do grande mundo antigo.
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segunda-feira, 19 de maio de 2008

Por Mário Quintana...


"Nunca diga "te amo" se não te interessa.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida, se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém, se não quiser vê -lo derramar em lágrimas por causa de ti.
A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você,
quando você não pretende fazer o mesmo".
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domingo, 18 de maio de 2008

Meus Rabiscos ...


Eu e Você - Renata Christina
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O dia amanhece colorido.
Com o canto do joão-de-barro,
Desperto para este novo dia
Repleto de emoções intensas,
A serem vivenciadas
No calor de sua presença,
Para abrandar a saudade de seus braços
E a sede de seus beijos
Em um novo roteiro
do filme de nossas vidas.
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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Canção de Amor da Jovem Louca - Sylvia Plath


Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
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Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
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Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
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Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
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Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
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Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)
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Tradução: Maria Luíza Nogueira
(in A REDOMA DE CRISTAL, Ed. Artenova, Brazil, 1971, p. 255)
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quinta-feira, 15 de maio de 2008

Por Pablo Neruda ...


Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Da Chegada do Amor - Elisa Lucinda


Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.
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Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.
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Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
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Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.
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Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
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Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.
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Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
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Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.
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Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.
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Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
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Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
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Sempre quis um amor
de abafar,(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.
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Sem senãos.
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Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
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Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.
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Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.
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Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
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Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.
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Ah, eu sempre quis um amor que amasse.
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terça-feira, 13 de maio de 2008

Noite de Amor - Castro Alves


PASSAVA a lua pelo azul do espaço
De teu regaço
A namorar o alvor!
Como era tema no seu brando lume...
Tive ciúme
De ver tanto amor.
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Como de um cisne alvinitentes plumas
Iam as brumas
A vagar nos céus,
Gemia a brisa — perfumando a rosa —
Terna, queixosa
Nos cabelos teus.
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Que noite santa! Sempre o lábio mudo
A dizer tudo
A suspirar paixão
De espaço a espaço — um fervoroso beijo
E após o beijo
E tu dizias — "Não!... "
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Eu fui a brisa, tu me foste a rosa,
Fui mariposa
— Tu me foste a luz!
Brisa — beijei-te; mariposa — ardi-me,
E hoje me oprime
Do martírio a cruz
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E agora quando na montanha o vento
Geme lamento
De infinito amor,
Buscando debalde te escutar as juras
Não mais venturas...
Só me resta a dor.
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Seria um sonho aquela noite errante?...
Diz', minha amante!...
Foi real... bem sei...
Ai! não me negues... Diz-me a lua, o vento
Diz-me o tormento...
Que por ti penei!
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domingo, 11 de maio de 2008

Amiga - Florbela Espanca


Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.
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Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim? O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!
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Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...
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Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...
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sexta-feira, 9 de maio de 2008

Soneto de Contrição - Vinícius de Moraes


Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.
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Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa..
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Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma....
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E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.
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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Duas Almas - Alceu Wamosy


Ó tu que vens de longe, ó tu que vens cansada,
entra, e sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho.
Vives sozinha sempre e nunca foste amada...
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A neve anda a branquear lividamente a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.
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E amanhã quando a luz do sol dourar radiosa
essa estrada sem fim, deserta, horrenda e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!
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Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
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quarta-feira, 7 de maio de 2008

Bilhete - Mário Quintana



Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
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terça-feira, 6 de maio de 2008

Por Paulo Leminski


"Depois de tanto meditar
resolvi editar
tudo o que o coração me ditar"

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segunda-feira, 5 de maio de 2008

A Fruta Aberta - Thiago de Mello


Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore plantada
bem alta no meio da minha vida.
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Agora sei as coisas como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.
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Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.
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Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verãoe com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.

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domingo, 4 de maio de 2008

Amar - Florbela Espanca


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!
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Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
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Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
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E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
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sábado, 3 de maio de 2008

Por Sophia de Mello Breyner Andresen



Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
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Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
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